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4 de mar. de 2013

O silêncio ensurdecedor de um povo apático



Mais incompreensível que a decisão das desditosas autoridades de Bom Jesus do Itabapoana/RJ de destruírem um dos poucos ícones da história do seu povo - a réplica em miniatura da Usina Hidrelétrica Franco Amaral -, é a indiferença da população.

Tal desinteresse é variante das demais molas propulsoras que impelem os brasileiros à estratosfera da acomodação e ao valhacouto do conformismo em quase tudo o que lhes diz respeito enquanto coletividade. 


O insidioso mal que acomete boa parcela dos quase 200 milhões de habitantes desta nação vem do seu sistema político que privilegia o personalismo em detrimento das ideologias. 


Assim, em vez de votarem numa causa, legitimam um indivíduo, com todos os seus defeitos e idiossincrasias, sem contarem com instrumentos objetivos, funcionais, que pudessem dispor um contraponto às atitudes grosseiras, que pudessem relativizar a falta de visão abrangente, a cegueira da vaidade, neutralizar os descaminhos.



Acerta na loteria um povo que eventualmente elege como seus representantes pessoas sérias, esclarecidas, sensíveis, estudiosas, dadas ao diálogo e ao bom-senso. 


Não é o caso em questão, em que broncos e insensíveis, caricatos e frívolos não têm sequer a capacidade de reconhecerem o tanto de informação e de cultura deixaram escapar ao longo da vida das imediações de suas zonas cinzentas, que nesta altura mal conseguem manter funcionando dois ou três neurônios. 


É o caso de uma dita autoridade (autoridade? Tal terminologia seria cômica se não fosse trágica), que prefiro não nomear porque a informação é de terceiros. 

Ela teria dito, sobre a réplica: 

- Gostam de velharias? Está lá ainda. Tirem fotos para olharem toda vez que sentirem saudades.

Inconcebível! Tamanho desprezo pela memória de uma geração não poderia vicejar impunemente. 


Mas cadê os instrumentos? Uma ferramenta que vez ou outra ainda trabalhava contra esses tiranetes, esses ditadores de meia-tijela está enferrujada, talvez irremediavelmente comprometida. 

Era a capacidade de mobilização da sociedade, o barulho dos jovens estudantes, das mulheres e homens de têmpera que até lograram destituir um presidente da República em época nem tão remota. 


Todos agora murchos como maracujá de gaveta!


Os outros representantes do povo na Câmara de Vereadores parecem ainda mais conformados. Não dão um pio. Devem concordar que "velharia" é para ser derrubada mesmo. 

E isso estaria de conformidade com quem defende o tombamento de bens históricos. 


Derrubar não é mais ou menos sinônimo de tombar? Pois então. O patrimônio será tombado, nem foi preciso uma sessão legislativa.  

A réplica pode não ser um Taj Mahal, mas é um bem imóvel de grande significado cultural, artístico, documental e estético. 

Preservá-la seria demonstrar respeito e admiração pelas origens, pelas raízes, seria manifestar orgulho em ser bom-jesuense, seria registrar gratidão pelo progresso que a Franco Amaral trouxe para a cidade e pelos homens que conceberam a Usina. 


Preservá-la não seria apenas manter de pé o passado. 


Significaria sobretudo conservar a cidadania da gente do lugar, que tem o direito de ter sua memória, sua identidade. 

Destruir ícones culturais sempre torna um povo mais alheio ao seu passado. 


"Entre outros exercícios do espírito, o mais útil é a história", já dizia o historiador romano Gayo Salústio Crispo. 

Mas, segundo informações a cada dia mais aflitivas, nada demove a ideia de que eliminar as lembranças do passado pode irisar as realizações do presente, tanto mais por  megalomaníacas (megalonanicas, para usar um neologismo muito em voga no Brasil atualmente), afetadas e hipócritas que sejam. 


Na inversão de valores em que vivemos, agradar a visão vale mais, muito mais, que acalentar o coração e a alma. 

Profundamente lamentável! 


Bom Jesus não merece tamanho menosprezo e desrespeito! O que, é duro dizer, não só por culpa dos maus políticos.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em maio/2010